Artigo: A advocacia, o jovem advogado e os desafios
Por Rodrigo Piancó*
A advocacia, por si só, já é uma profissão naturalmente difícil. Após honrosa alegria da aprovação no Exame da Ordem, o jovem advogado se depara com um cenário adverso: não tem salário mensal. Não tem cliente. Não tem estabilidade financeira.
Em um país com mais de 1,4 milhão de advogados, a concorrência é assustadora e, com a lei de marcado (oferta/procura), os valores dos honorários acabam por diminuir. Disso resulta o maior problema do advogado, seja ele jovem ou não: como conquistar clientes se em todo núcleo familiar há um advogado pronto a advogar gratuitamente para os pais, irmão, tios, primos e amigos próximos?
A situação não é fácil e não é possível ignorá-la. Não se pode romancear as coisas, porquanto se trata de uma profissão, de um meio de vida, da forma como você vai conseguir (ou não) pagar seu apartamento, fazer sua feira, pagar a escola dos filhos etc.
De logo, digo que não existe solução pronta. Não obstante, tenho firme convicção de que parte da solução passa, obrigatoriamente, pelo constante e profundo aperfeiçoamento do advogado, na especialização em determinado ramo.
Explico. Num país com tantos advogados, para que uma pessoa com um problema jurídico deixe de “contratar” o filho ou um sobrinho para assumir a causa, somente o fará se for por um outro advogado que seja especialista no assunto. A especialização, pois, transmite segurança ao potencial cliente.
A conquista do cliente, portanto, se dará pelo reconhecimento e autoridade que você demonstrar ter em determinado seguimento do Direito. O uso das redes sociais pode ajudar a divulgar esse conhecimento, obviamente observando-se os limites trazidos pelo nosso Código de Ética e normas regulamentares de publicidade.
É preciso escrever bem, é preciso saber português. Essa é sua arma de trabalho. Uma petição mal escrita é o começo do insucesso. Juízes, promotores, desembargadores e ministros lerão suas peças. Faça uma autocrítica. Se verificar deficiências, procure um professor. Assim como temos que estudar e aprender Direito Penal, Processo Penal etc., temos que saber escrever. É fundamental.
Você precisa conhecer gente, precisa participar de eventos (network). Faça parcerias com advogados mais experientes. Atuando juntos, além de você aumentar as chances de um bom resultado para o seu cliente, você ainda aprenderá como uma pessoa mais experimentada pensa a causa, elabora a estratégia e executa as ações.
Bem. Com as primeiras contratações ocorrendo, seja sempre absolutamente comprometido com a causa a você confiada: as pessoas depositam aspectos relevantíssimos da vida delas em suas mãos.
Seja transparente com o cliente. Não venda ilusões. Muitos clientes querem ouvir promessas de resultado certo. Muitos advogados pecam nesse ponto. Com receio de perder a contratação, acabam fazendo promessas que não conseguirão cumprir. Isso pode, inclusive, colocar-lhe em risco de morte. Prometa trabalho, compromisso com a causa, mas nunca venda ilusões.
No início da advocacia criminal, você pode ir aos fóruns, deixar cartões de visita nas varas, se colocar à disposição para atuar como dativo. Só assim você vai ganhando experiência e vai sendo conhecido.
Por fim, use a Tabela de Honorários para balizar seus contratos. Se todos os advogados cobrassem os valores mínimos ali estipulados, todos, sem exceção, viveríamos financeiramente bem. Reflita sobre isso!
Estude, estude, estude muito. Com 1,4 milhão de profissionais somente haverá lugar para quem estiver (verdadeiramente) preparado. Não adianta fingir.
Se tudo der certo, porém, o céu é o limite.
*Rodrigo Piancó é advogado com especialização em Direito Penal e Processual Penal pela Faculdade Damas. Presidente da Comissão do Tribunal do Júri da ANACRIM/PE (Associação Nacional da Advocacia Criminal), Presidente da Comissão de Direito Penal da OAB subseccional São José do Egito, Membro da Comissão de Direito Penal, da Comissão do Tribunal do Júri. Palestrante e Professor.
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